A incidência do diabetes do tipo 2 cresce de forma alarmante e é considerada a epidemia do século XXI. Esta enfermidade crônica e progressiva é das principais causas de eventos cardiovasculares fatais e não fatais, diálise e transplante renal, cegueira e amputações.
Mesmo com o franco progresso de medicações, incluindo aqueles que demonstraram diminuição, pelo menos a curto prazo, do risco cardiovascular, o controle dos pacientes portadores de diabetes do tipo 2 é inadequado, sendo que são muito poucos aqueles que conseguem controle da glicemia, da pressão arterial e níveis de colesterol e triglicérides. É importante salientar que a média do índice de massa corpórea (IMC) no Brasil de portadores de diabetes do tipo 2 é ao redor de 30 kg/m2 (obesidade leve ou grau 1) e que menos do que 20% conseguem obter controle dos níveis de açúcar no sangue.
Há mais de uma década foram publicados estudos em animais e posteriormente em seres humanos que comprovaram mecanismos que agem diretamente sobre o diabetes e que inicialmente independem da perda de peso. E já sabe-se há muito que as intervenções cirúrgicas sobre o tubo digestivo são as mais poderosas ferramentas para intensa e duradoura perda de peso. Portanto, as cirurgias metabólicas têm ação antidiabética direto e finalmente expressiva perda de peso.
Além do conhecimento dos mecanismos de funcionamento, incontáveis estudos clínicos demonstraram que os efeitos positivos sobre o diabetes aconteceram a curto e a longo prazo (mais de 25 anos de seguimento), independentemente do índice de massa corpórea dos pacientes antes de serem operados. E mais, um estudo respeitável, com mais de 90,000(noventa mil) pacientes concluiu que o controle da glicemia é atingido igualmente em pacientes obesos leves (grau 1) ou moderados (grau 2) e severos (grau 3). A literatura dispõe também de estudos com alto nível de evidência cientifica que comprova a eficácia da cirurgia metabólica com tratamento clinico sobre o diabetes, quando comparados com o tratamento clinico isolado.
O controle desta devastadora doença através da cirurgia metabólica deve ser indicado depois de tentativas de tratamento supervisionado. No pós-operatório, pode ser necessário o uso de medicação, e também já foi reportado que os remédios funcionam melhor.
As cirurgias são seguras, com índices de complicações sérias ao redor de 2% e mortalidade de 0,13%, semelhantes a simples retiradas da vesícula ou do útero.
Como o câncer, sendo o diabetes uma enfermidade crônica e progressiva, é importante o acompanhamento com exames de laboratório com equipes multidisciplinares para otimização dos resultados.
Enfim, a cirurgia metabólica para pacientes com IMC a partir de 30 kg/m2 é efetiva e segura desde que bem indicada. Não oferecê-la como opção configura uma barreira ao acesso para o tratamento de uma doença com elevados índices de mortalidade por doenças cardiovasculares. Porém desde 7/12/2017, depois da Resolução 2172 do Conselho Federal de Medicina, não há mais a discriminação de pacientes baseados em seu peso somente, mas franqueado o acesso para aqueles que mais o necessitam. E esta decisão é consonante com mais de 50 Sociedades médicas que determinam as diretrizes de tratamento do diabetes, incluindo a Brasileira, Norte Americana e Europeia que desde 2015 expressamente recomendam a cirurgia metabólica para obesos leves com a doença não controlada.
Ricardo Cohen é Coordenador Médico do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz e Presidente eleito do Capítulo Latino Americano da IFSO , Presidente do Congresso Mundial de Cirurgia Bariátrica e Metabólica da IFSO, realizado no Rio de Janeiro em setembro de 2016 e Editor da revista “Obesity Surgery”, publicação oficial da Federação Internacional de Cirurgia para a Obesidade (IFSO).
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