por Fernanda Frozza
Para algumas pessoas, os quilos a mais se resumem a uma gordurinha saliente em cima da calça. Já para outras, a briga com a balança envolve problemas de saúde, baixa autoestima e o consumo desenfreado de inibidores de apetite. Nesses casos, a solução muitas vezes é a cirurgia bariátrica, popularmente conhecida como redução de estômago.
De acordo com Sizenando Ernesto de Lima Junior, médico cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Samaritano de São Paulo, há várias técnicas que diminuem a capacidade do estômago, mas engana-se quem acha que basta ser gordinho para realizá-las. “Elas são indicadas apenas para obesos mórbidos, com IMC (índice de massa corpórea) acima de 40 ou acima de 35 para pessoas que têm diabetes e pressão alta. Operar é o último recurso e por isso a gente pressiona o paciente a andar na linha quando decidimos realizar a cirurgia”.
Foi assim que aconteceu com a consultora de seguros Carina Martins Ferreira, de 37 anos. Depois de investir em todo tipo de dieta e lutar contra o efeito sanfona, seus 117 kg distribuídos em 1,78 m começaram a prejudicar as articulações, aumentar o colesterol e a pressão arterial. Preocupada com as consequências do excesso de peso, ela decidiu operar em 2008. “Teve uma época em que eu tentei fazer regime de engorda porque os médicos diziam que eu precisava ter 20 kg a mais para fazer a cirurgia, mas como eu tinha problemas no tornozelo e um histórico de família obesa, meu médico resolveu me operar”, conta.
Para a produtora de eventos Gisella Serafim, de 46 anos, a história foi bem parecida. Há quatro anos, com 1,56 m e 98 kg, ela decidiu fazer um processo cirurgico para garantir qualidade de vida. “Eu fazia muita dieta, tomava anfetamina, emagrecia 10 kg e, assim que parava, engordava o dobro. Minha tireoide estava comprometida, meu colesterol estava alterado e eu tinha pressão alta. Não dava mais”.
Tomar a decisão nem sempre é fácil. Isso porque o processo começa bem antes da sala de cirurgia e exige acompanhamento. O lado bom, claro, são os quilos a menos. Mas a operação pode causar problemas como refluxo, anemia e grandes chances de transferir a compulsão por comida para outro vício, como o álcool.
“O defeito dessas operações não é só vomitar ou passar mal. É esperado que o paciente abuse. O defeito é que você pode ter deficiência de vitamina e isso acontece ainda mais nas mulheres. Outra preocupação é que, como a cirurgia acaba com a fome, mas não com a vontade de comer, o operado precisa de acompanhamento psicológico para não transferir a compulsão do mal”, explica Sizenando.
Dieta e pós-operatório
A primeira etapa após a cirurgia dura 15 dias e é marcada por uma dieta líquida, em que é liberado água de coco, isotônicos, suco e chá com adoçante. Depois disso, já é possível ingerir alimentos pastosos, como sopa. Os alimentos sólidos só entram no cardápio após o primeiro mês.
“O que pega mais é a vontade de mastigar. Eu não tinha fome, mas tinha necessidade de mastigar e por isso os primeiros dias foram bem complicados”, relembra Gisella. Para Carina, a compulsão também foi o maior obstáculo. “Um dia tive muita vontade provar melancia, dei duas mordidas e sentia que tinha comido uma feijoada inteira. A necessidade física já estava esgotada, mas o pensamento de gordinha ainda era o mesmo”, conta.
Uma vez operado, é preciso colocar o pé no freio e diminuir as porções. “A comida do paciente tem que caber na palma da mão e não pode passar de 200 g para o resto da vida. Se achar que vai operar para tomar refrigerante e comer à vontade, não opera”, alerta o cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Samaritano.
Resultados
Apesar da dificuldade com a alimentação, Gisella notou as diferenças no corpo já no primeiro mês, quando emagreceu 20 kg. Ao todo, ela perdeu 32 kg e disse que não consegue digerir proteína muito bem depois da cirurgia, mas come de tudo com moderação. “A gente fica mais seletivo, porque como você não aguenta comer muito, acaba comendo o que realmente é bom”.
Carina também se surpreendeu com o ponteiro da balança. Nos primeiros dois anos, emagreceu 48 kg. Em seguida, ganhou um pouquinho de peso e estacionou nos 75 kg. “Deveria fazer exercícios, mas sou preguiçosa. Minha alimentação mudou muito. Não que eu não coma doce, refrigerante e besteira, mas prefiro uma alimentação saudável”
As duas concordam que a vaidade muda completamente após o emagrecimento. Hoje, com 66 kg, Gisella conta que sua autoestima está lá em cima. “Consigo me vestir melhor e já não preciso mais ir a uma loja especial. Se eu passo em frente de uma vitrine e vejo uma roupa bonita, sei que vou encontrar meu número”, disse. “Sempre fui uma gorda com austoestima, mas eu fiquei mais vaidosa depois que emagreci. Hoje me olho no espelho por completo e também tiro foto de corpo inteiro”, completa Carina.
Conheça algumas técnicas
Banda gástrica ajustável: um dispositivo de silicone é colocado na parte superior do estômago e divide o órgão em dois, o que desacelera a digestão e aumenta a saciedade. “O estômago vai funcionar como uma ampulheta, mas o problema é que você pode ingerir sorvete, chocolate líquido ou qualquer porção calórica que prejudica a perda de peso”, explica Sizenando.
Balão gástrico: não necessita de cirurgia. Por meio de uma endoscopia, um balão é colocado dentro do estômago e diminui o espaço para a comida, o que aumenta a saciedade. A técnica dura seis meses e foi realizada pela atriz Fabiana Karla.
Capella: cirurgia que liga o estômago ao fim do intestino. Sendo assim, o alimento faz um caminho bem curto dentro do organismo. “Essa técnica é a mais utilizada no Brasil e funciona como um grampeador. Se abusar de doce e gordura, o operado pode passar mal”, afirma o médico cirurgião do aparelho digestivo.
Scopinaro: o estômago é reduzido cirurgicamente e ligado diretamente ao intestino delgado. Assim, apenas 3 m de íleo (parte do intestino) recebe o suco bileopancreático. Com isso, ocorre a má absorção de gorduras e pode haver diarreias frequentes caso o paciente se alimente de forma incorreta. A técnica foi realizada por Chiquinho Scarpa.
Interposição do íleo: cirurgia que retira uma parte do estômago e do íleo (parte do intestino delgado). Essa parte é colocada entre o jejuno e o duodeno (parte superior do intestino). Assim, o alimento chega menos digerido ao íleo e o organismo passa a produzir mais hormônios que curam a diabetes tipo 2. A técnica é proibida no Brasil e foi realizada pelo Faustão.
Duodenal Switch Modificado: processo que reduz o estômago e faz um desvio para o intestino delgado. Dessa forma, a ingestão e absorção de alimentos é menor.
Gastroplastia vertical: o estômago é reduzido para 1/3 de sua capacidade, o que obriga o paciente a ingerir pequenas porções de alimentos.