Pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) entre 30 e 35 e portadores de diabetes mellitus tipo 2, sem adequada resposta ao tratamento clínico convencional, poderão ser tratados com cirurgia.
O Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou na última quarta-feira (01), o parecer número 38/2017 que reconhece a cirurgia metabólica como opção para o tratamento de diabetes tipo 2.
A solicitação foi feita pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Colégio Brasileiro de Cirurgiões e Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva.
De acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), Caetano Marchesini, a aprovação da cirurgia metabólica pelo CFM ocorreu com base em critérios que incluem a aplicabilidade clínica do procedimento, comprovação científica, segurança e eficácia.
“Esta medida coloca o Brasil ao lado de outros países como, por exemplo, a Inglaterra e os Estados Unidos, que já entenderam a importância de oferecer a cirurgia como opção terapêutica. Evidências científicas comprovam os benefícios da cirurgia metabólica que, a partir de agora, poderá ajudar um número grande de pessoas que sofrem com a diabetes”, declarou o presidente SBCBM, Caetano Marchesini.
Para a realização do procedimento também são necessários: idade mínima de 30 e máxima de 70 anos, ter menos de dez anos de diabetes e que o paciente não responda adequadamente ao tratamento clínico com medicamentos e mudança de estilo de vida.
COMO É A CIRURGIA – O Conselho Federal de Medicina reconheceu duas técnicas cirúrgicas para o tratamento do diabetes tipo 2: o bypass gástrico e a gastrectomia vertical
O bypass é indicado como a técnica de cirurgia mais eficaz e de primeira escolha. Bypass, que significa desvio em inglês, consiste em uma redução do estômago através de grampeamento. O estômago é dividido em duas partes, sendo uma menor que será por onde o alimento irá transitar e outra maior que ficará isolada. Este pequeno estômago é então ligado ao intestino para que o alimento possa seguir seu curso natural. Já a gastrectomia vertical – que consiste na retirada de dois terços do estômago – pode ser indicada como segunda opção, se a primeira opção não puder ser realizada.
EFEITOS SOBRE A DIABETES – A cirurgia metabólica promove mudanças anatômicas no trato digestivo e que alteram os mecanismos envolvidos na regulação do metabolismo do açúcar no sangue.
“A cirurgia promove aumento da a secreção da insulina e aumento da sensibilidade aos tecidos a este hormônio que é responsável pela regulação das taxas de açúcar no sangue. Além disso, faz com que ocorra perda de peso que é fator perpetuador da diabetes”, explica Marchesini.
Ele conta que a cirurgia promove ainda a alteração da flora intestinal (microbiota), do fluxo da bile no intestino e modifica a produção dos hormônios intestinais.
“Todos estes fatores têm importância não apenas na melhora do diabetes, como também nas taxas de gordura no sangue, hipertensão arterial e inúmeras outras doenças”, completa Marchesini.
Segundo ele, diversos estudos realizados na última década comprovam que entre 30% a 60% dos pacientes que passam pela cirurgia metabólica apresentam uma normalização durável das taxas de açúcar no sangue, deixando de tomar medicamentos para a diabetes, o que é chamado pelos médicos de remissão da doença.
“Mesmo pacientes que não responderam ao tratamento cirúrgico ou voltaram a ter a doença apresentavam uma melhor resposta aos medicamentos em comparação àqueles não fizeram a cirurgia”, destaca Caetano.
Atualmente a cirurgia metabólica é feita por laparoscopia – cirurgia através de pequenos furos na barriga, com rápida recuperação e menor tempo de internação hospitalar.
DIABETES NO BRASIL – No Brasil, 14,3 milhões de pessoas convive com o Diabetes, o que representa 9% da população. O número de brasileiros diagnosticados com diabetes cresceu 61,8% nos últimos 10 anos, passando de 5,5% da população em 2006 para 8,9% em 2016. Os dados são da última pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada em abril de 2017 pelo Ministério da Saúde.
O Diabetes tipo 2 é a forma mais comum da doença. Inclui cerca de 90% dos pacientes. Geralmente, o tipo 2 aparece depois dos 40 anos e está associado à obesidade, ao sedentarismo, à alimentação inadequada e ao estresse. Ela é uma doença crônica e progressiva que pode causar danos renais, cegueira, surdez, impotência sexual, infarto, amputação de membros e inúmeros outros problemas de saúde.